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5,72310/10/2017

Diretrizes sobre takfir (decisão sobre considerar alguém um kaafir)

Pergunta: 85102

Esperamos que você possa definir as diretrizes através das quais é possível determinar se alguém é um kaafir ou faasiq, para que eu não caia nas inovações em que muitos grupos caíram. Quais livros você me aconselharia ler? Por favor, note que sou um iniciante que busca o conhecimento.

Texto da resposta

Louvado seja Deus, e paz e bênçãos estejam sobre o Mensageiro de Deus e sua família.

Em primeiro lugar:

Determinar se alguém é um kaafir ou um faasiq não depende de nós, ao contrário é da alçada de Allah, Exaltado seja, e Seu Mensageiro (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele). Esta é uma das regras da shari’ah que deve ser referenciada no Alcorão e na Sunnah, então devemos ter muito cuidado e basear nosso julgamento em provas claras. Ninguém pode ser julgado sendo um kaafir ou faasiq, exceto aquele que o Alcorão e a Sunnah indicam ser um kaafir ou faasiq.

O princípio básico é que aquele que aparece exteriormente sendo Muçulmano de bom caráter é considerado ainda Muçulmano de bom caráter, até que seja comprovado que este não é mais o caso por meio de evidências aceitáveis ​​na shari’ah. Não é permitido considerar levianamente a questão de julgar alguém como sendo um kaafir ou faasiq, porque isso envolve dois assuntos muito sérios:

1 – Implica fabricar mentiras contra Allah em relação a esta regra, e fabricar mentiras contra aquele que está sendo julgado.

2 – Cair exatamente naquilo que se acusou sobre o irmão, caso ele esteja livre (da acusação).

No Sahih al-Bukhari (6104) e Sahih Muslim (60), é narrado de 'Abd-Allah ibn 'Umar (que Allah esteja satisfeito com ele) que o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) disse: "Se um homem declara que seu irmão é um kaafir, isto será aplicado a um deles." Segundo outro relato: "Ou é como ele disse, ou isto voltará para ele."

Em segundo lugar:

Com base nisso, antes de decidir que um Muçulmano é um kaafir ou um faasiq, duas coisas devem ser examinadas:

1 – A evidência do Alcorão ou da Sunnah de que aquela palavra ou ação implica que uma pessoa seja um kaafir ou um faasiq.

2 – Aplicar esta decisão a uma pessoa específica que diz ou faz aquela coisa, de modo que as condições de julgamento de uma pessoa sobre ser um kaafir ou faasiq seriam atendidas no seu caso, não há impedimentos.

Entre as mais importantes destas condições estão as seguintes:

1 – Que o indivíduo deve estar ciente de sua transgressão que o torna um kaafir ou faasiq, porque Allah diz (interpretação do significado):

"E a quem discorda do Mensageiro, após haver-se tornado evidente, para ele, a direita direção, e segue caminho outro que o dos crentes, abandoná-lo-emos no caminho que escolheu e fá-lo-emos entrar na Geena. E que vil destino!"

[An-Nissa' 4:115]

"E não é admissível que Allah descaminhe um povo, após havê-lo guiado, sem antes tornar evidente, para ele, aquilo de que deve guardar-se. Por certo, Allah, de todas as cousas, é Onisciente."

[At-Tawbah 9:115]

Assim, os estudiosos disseram que uma pessoa que nega os deveres obrigatórios não deve ser julgada como kaafir se ela é nova no Islam, até que aquilo lhe seja explicado.

2 – Uma razão pela qual o indivíduo não pode ser julgado como um kaafir ou faasiq é se ele faz algo involuntariamente que incorre em tal julgamento. Isso pode assumir várias formas, tais como:

Por exemplo, ele pode ter sido forçado a fazer isso, então ele faz aquilo porque foi forçado e não porque aceita aquilo. Ele não é um kaafir nesse caso, porque Allah diz (interpretação do significado):

"Quem renega a Allah, após haver crido, será abominoso, exceto quem for compelido a isto, enquanto seu coração estiver firme na Fé. Mas quem dilata o peito para a renegação da Fé, sobre eles será uma ira de Allah, e terão formidável castigo."

[Al-Nahl 16:106]

Outro exemplo é quando ele não está pensando direito, então não sabe o que está dizendo por causa da extrema alegria, tristeza ou medo, e assim por diante. A evidência disso é o relato narrado em Sahih Muslim (2744) de Anas ibn Malik (que Allah esteja satisfeito com ele) que disse: O Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) disse: "Allah se alegra mais com o arrependimento de Seu servo quando ele se arrepende a Ele; do que um de vós que estava em sua montaria no deserto, então ele a perdeu e sua comida e bebida estavam sobre ela. E ele se desespera quanto a encontrá-la. Ele vai para uma árvore e se deita em sua sombra, tendo perdido a esperança de encontrar sua montaria, e enquanto está assim, ali ela está, de pé diante dele, então ele toma as rédeas e diz, através de sua intensa alegria: 'Ó Allah, Tu és meu servo e eu sou Teu senhor', cometeu esse erro por causa de sua intensa alegria.”

3 – Má interpretação. O indivíduo pode ter alguma confusão e alguma má interpretação a que ele adira, pensando que esta constitui evidência para suas crenças. Ou ele pode não ser capaz de entender e compreender evidências e provas shari’ da maneira apropriada. Portanto, julgar alguém como sendo um kaafir não é válido exceto no caso daquele que deliberadamente vai contra a evidência shar'i e que sabe que está errado.

Allah diz (interpretação do significado):

"E não há culpa, sobre vós, em errardes, nisso, mas no que vossos corações intentam. E Allah é Perdoador, Misericordiador."

[al-Ahzaab 33:5]

Ibn Taimiyah (que Allah tenha misericórdia dele) disse em Majmu' al-Fataawa (23/349):

O Imam Ahmad (que Allah esteja satisfeito com ele) suplicou por misericórdia a eles (ou seja, os califas que foram influenciados pela visão dos Jahamis que alegaram que o Alcorão foi criado e apoiaram esta ideia) e pediu perdão por eles, pois sabia que não lhes era claro que estavam descrendo do Mensageiro e negando o que este havia trazido, pelo contrário, eles interpretaram mal e erraram, e seguiram aqueles que disseram isso a eles. Fim da citação.

E ele (que Allah tenha misericórdia dele) disse em Majmu' al-Fataawa (12/180):

No que diz respeito ao takfir (julgar alguém como um kaafir), a visão correta é que um membro da ummah de Muhammad (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele), que se esforça para alcançar a verdade sobre um determinado assunto, entretanto chega à conclusão errada, não deve ser considerado um kaafir, ao contrário, ele deverá ser perdoado por seu erro. Mas aquele que entende a mensagem trazida pelo Mensageiro, e deliberadamente vai contra o caminho do Mensageiro (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) depois que a verdadeira orientação se tornou clara para ele e, então, segue um caminho diferente do dos crentes, este é um kaafir. Aquele que segue seus caprichos e desejos, falha em buscar a verdade e fala sem conhecimento é um pecador desobediente, e pode ser um faasiq, mas pode ter algumas boas ações que superam suas más ações. Fim da citação.

E ele (que Allah tenha misericórdia dele) disse, (3/229):

No entanto, aqueles que se sentam comigo sabem sobre isso, eu sou sempre um daqueles que proíbe enfaticamente descrever uma pessoa específica como kaafir, faasiq ou pecadora, a menos que seja estabelecida uma prova shar'i contra ela, e seja comprovado se ela é kaafir, faasiq ou pecadora. Afirmo que Allah perdoou essa ummah por seus erros, o que inclui erros em questões narrativas e práticas. Os salaf continuaram a debater muitas dessas questões, mas nenhum deles testemunhou que alguém era um kaafir ou um faasiq ou um pecador.

Ele mencionou alguns exemplos, então disse:

Eu também afirmo que o que foi narrado dos salaf e dos imams, afirmando que aquele que diz tal coisa é um kaafir, também é verdade, mas é essencial diferenciar entre regras gerais e casos específicos.

…Takfir é uma espécie de advertência; embora as palavras possam ser uma rejeição ao que o Mensageiro (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) disse, o homem pode ser novo no Islam, ou pode ter crescido em uma região remota. Essa pessoa não pode ser rotulada como uma kaafir, não importa o que negue, a menos que haja provas contra ela. O homem talvez não tenha ouvido falar desses textos, ou ele pode tê-los ouvido, mas estes não foram comprovados a ele, ou ele pode ter algumas ideias que são contrárias ao que ouviu, que o leva a interpretar mal o texto.

Eu sempre me lembro do hadith em al-Sahihein, que fala do homem que disse: "Quando eu morrer, queime-me e esmague (meus ossos), então, lance-me no mar, porque por Allah, se Allah me pegar Ele me punirá como nunca puniu ninguém no mundo." Eles fizeram aquilo, e Allah disse: ‘O que te levou a fazeres o que foi feito?’ Ele disse: ‘Temor de Ti.' E Ele o perdoou por aquilo.

O homem duvidava do poder de Allah e duvidava que Ele o restauraria se seus restos mortais fossem espalhados; ao contrário, ele acreditava que Ele não seria ressuscitado, o que é kufr de acordo com o consenso dos Muçulmanos. Mas ele era ignorante e não sabia daquilo; no entanto, ele era um crente que temia que Allah o punisse, então Allah o perdoou por isso.

Entre aquele que é qualificado para se engajar em ijtihaad e aquele que baseia sua noção incorreta em alguma interpretação errada de algum texto, mas é sincero em sua vontade de seguir o Mensageiro (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele), o segundo é ainda mais merecedor de perdão do que o primeiro. Fim da citação.

Baseado em Khaatimah al-Qawaa'id al-Muthla por Shaikh Ibn 'Uthaimin (que Allah tenha misericórdia dele).

Pela questão do takfir ser muito séria e os erros nela contidos serem bastante graves, o estudante do conhecimento, especialmente se é um iniciante, deve abster-se de entrar nisso, e deve se concentrar em adquirir conhecimento benéfico que estabelecerá seus próprios interesses diretamente ligados a este mundo e à próxima vida.

Em terceiro lugar:

Antes de sugeri-lo alguns livros, devemos aconselhá-lo a buscar conhecimento diretamente de estudiosos da Ahl as-Sunnah, porque é o caminho mais fácil e seguro; mas, isso está sujeito à condição de que aquele com quem você aprenda seja confiável em termos de seu conhecimento e compromisso religioso, siga a Sunnah, e evite caprichos, desejos e inovações.

Muhammad ibn Sirin (Que Allah tenha misericórdia dele) disse: Este conhecimento é a (fundação da) religião, então veja de quem tu aprendes tua religião. Narrado por Muslim, na Introdução ao seu Sahih.

Se não for possível, onde você estiver, acompanhar as aulas ministradas por sábios, então você pode fazer uso de suas gravações, pois tornou-se fácil obtê-las em CD’s e sites, todos os louvores são para Allah. Você também pode beneficiar de alguns estudantes de conhecimento que desejam adquirir conhecimento shar'i e seguir a Sunnah; quase nenhum lugar é totalmente isento dessas pessoas, insha’Allah.

Em quarto lugar:

Livros, os quais você deve se esforçar para adquirir e estudar, incluem o seguinte:

Tafsir: Tasfir Ibn Sa'di; Tafsir Ibn Kathir.

Hadith: al-Arba'in al-Nawawiyyah (Os 40 ahadith al-Nawawi), com um comentário sobre o assunto; Al-Ihtimaam bi Jaami' al-'Ulum wa'l-Hukam de Ibn Rajab; Riyaadh al-Saalihin – você deve dar atenção especial a este livro abençoado, e também pode aprender com o comentário sobre ele por Shaikh Ibn 'Uthaimin (que Allah tenha misericórdia dele).

'Aqidah: Estude Kitaab al-Tawhid por Shaikh Muhammad ibn' Abd al-Wahhaab, com seu comentário; Al-'Aqidah al-Waasitiyyah por Shaikh al-Islam Ibn Taimiyah; alguns outros ensaios úteis sobre este tópico, como Tahqiq Kalimat al-Ikhlaas de Ibn Rajab e al-Tuhfah al-'Araaqiyyah fi'l-Amaal al-Qalbiyyah por Ibn Taimiyah.

Você também pode se beneficiar de Zaad al-Ma'aad por Ibn al-Qayyim (que Allah tenha misericórdia dele) e muitos de seus outros livros, como Al-Waabil al-Sayyib e Al-Da'wa'l-Dawa'.

Este é um começo. Se você estudar esses livros, especialmente se houver alguém que possa ajudá-lo a ler e compreendê-los, então poderá prosseguir com outros livros, insha’Allah.

E Allah sabe

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