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Parecer sobre injeções e fluidos intravenosos para o jejuador, e o impacto da intenção (niyyah) na invalidação do jejum

Pergunta: 250660

Quando um paciente vai ao médico, no hospital ou na clínica, qual é a sua intenção? Será que é comer e beber? Qual é o seu papel na escolha do modo de cura e recuperação? Será que ele pode decidir sobre um tipo em especial e método de tratamento, ou mudar o plano de tratamento? Na verdade, quando o paciente vai procurar um médico no hospital, sua única intenção é buscar tratamento para um sintoma ou doença, ou uma emergência de saúde que o atingiu, ou um problema de saúde que tenha descoberto, e quando encontra o médico, submete-lhe seus assuntos, sem qualquer discussão, exceto algumas perguntas sobre sua saúde e doença. No que diz respeito às intenções, ao procurar tratamento, o paciente não tem intenção de quebrar o jejum, e quando o médico concorda em trata-lo, não pretende invalidar o jejum do paciente. Em vez disso, aqueles que determinam se o jejum do enfermo é ou não válido, quando os médicos o submetem a um determinado curso de tratamento, são os estudiosos – que Allah os abençoe. Por exemplo, eles determinaram que injeções intravenosas não invalidam o jejum, sem discutir a quantidade da substância injetada, como qual quantidade não invalida o jejum e qual o valor que o invalida. Consequentemente, a decisão está em aberto. Mas quando discutiram soluções salinas ou de açúcar, perguntaram se a ela era para nutrição ou para tratamento médico. Se for com a finalidade de nutrição, então quebra o jejum, e se for para o tratamento médico não quebra o jejum. Com todo o respeito a eles por levantarem este ponto, mas isso contradiz o fato de que aqui estamos falando sobre o ambiente hospitalar, onde cada ação é feita de acordo com as instruções dos médicos para o tratamento dos pacientes; quero dizer que tudo o que acontece no hospital é para fins de tratamento médico, mesmo que o médico prescreva nutrientes, como no caso de insolação e golpe de calor, em que o soro fisiológico é usado apenas com a finalidade de reidratar o paciente, que não consegue beber por causa do vômito, e ele se recusa a quebrar o jejum e depois compensar no dia seguinte ao Ramadan, de acordo com a concessão concedida, porque aqueles que são trazidos ao hospital nessa condição são pessoas que trabalham na área da construção civil ou em fundições de ferro e aço, por exemplo; se tiverem que quebrar o jejum, teriam que fazê-lo todos os dias, e não aceitariam isso.

Texto da resposta

Louvado seja Deus, e paz e bênçãos estejam sobre o Mensageiro de Deus e sua família.

As discussões dos fuqaha’ sobre coisas que invalidam o jejum não têm nada a ver com a intenção (niyyah) do enfermo ou do médico, ao contrário, as coisas que quebram o jejum estão mencionadas em textos religiosos ou são análogas a essas.

Dentre as coisas que são mencionadas nos textos religiosos estão comer e beber, como Allah, Exaltado seja, diz (interpretação do significado):

“…E comei e bebei, até que se torne evidente, para vós, o fio branco do fio negro da aurora. Em seguida, completai o jejum até o anoitecer.”

[al-Baqarah 2:187]

Então, é permitido comer e beber até o amanhecer, depois ordena-se abster-se de comer e beber até o pôr-do-sol, que é quando a noite começa.

Al-Bukhari (1903) e Muslim (1155) narraram que Abu Huraira (que Allah esteja satisfeito com ele) disse: O Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) disse: “Quem não desistir de falar e agir falsamente, Allah não precisa da sua desistência da comida e bebida.”

E existe outra evidência para indicar que comer e beber durante o dia no Ramadan está entre as coisas que invalidam o jejum.

Muitos dos fuqaha’ acrescentaram a isso qualquer coisa que chegue ao estômago, seja através do mesmo canal que a comida e bebida, ou de outro jeito.

Alguns deles limitaram-se a invalidar o jejum com o que entra na categoria de comer e beber, como as injeções nutricionais.

Sem dúvida, todas as injeções e soluções são para fins de tratamento médico, mas algumas delas são para fins de nutrição, que substituem a comida e a bebida, e outras não. Quanto às soluções – sejam de açúcar ou salinas – que são administradas por via intravenosa, elas fornecem nutrição e invalidam o jejum, ao contrário das soluções que são usadas para lavar a bexiga, que não invalidam o jejum, como veremos a seguir.

Nós discutimos anteriormente coisas que invalidam o jejum, na resposta à pergunta nº 38023. Dentre outras coisas, dissemos lá:

A quarta das coisas que invalidam o jejum é qualquer coisa considerada sob a mesma categoria de comer e beber.

Isso inclui duas coisas:

i. Transfusão de sangue para o jejuador – como se ele sangrasse muito e recebesse uma transfusão de sangue. Isso invalida o jejum porque o sangue é o destino final da nutrição através da comida e da bebida.

ii. Receber, através de uma agulha (como no caso de um gotejamento), substâncias nutritivas que tomam o lugar da comida e da bebida, porque isso é o mesmo que comer e beber. Shaikh Ibn 'Uthaymin, Majaalis Shahr Ramadan, p. 70

Quanto às injeções que não são uma alternativa à comida e bebida; ao contrário, são para fins de tratamento médico – como penicilina, insulina, tratamentos para energizar o corpo ou vacinações – não afetam o jejum, sejam intramusculares ou intravenosas.

Fataawa Muhammad ibn Ibraahim (4/189).

Mas para estar do lado seguro, essas injeções podem ser administradas à noite.

A diálise renal, que requer a remoção do sangue para limpá-lo, e depois devolvê-lo com a adição ao sangue de algumas substâncias químicas e nutricionais, como açúcares e sais e similares, é considerada como invalidante do jejum.

Fim de citação. Fataawa al-Lajnah ad-Daa'imah (10/19).

Na resposta à pergunta nº 233663, explicamos que as soluções salinas que são administradas em alguns pacientes por via intravenosa invalidam o jejum, porque estão sob a designação de nutrientes, pois contêm sais e fluidos que entram na corrente sanguínea e beneficiam o corpo.

Definindo o que é considerado como nutricional e não nutricional, o Shaikh Ibn 'Uthaymin (que Allah tenha misericórdia dele) disse: Os sábios consideraram como invalidante do jejum tudo o que vem sob a mesma designação de comida e bebida, como injeções nutricionais.

Aquilo que energiza o corpo ou cura a doença não é considerado nutricional; ao invés disso, as injeções nutricionais são uma alternativa aos alimentos e bebidas. Com base nisso, todas as injeções que não são alternativas à comida e bebida não invalidam o jejum, sejam elas administradas por via intravenosa ou via injeção na coxa ou em outro lugar do corpo.

Fim da citação de Majmu 'Fataawa wa Rasaa'il al-'Uthaymin (19/199)

É apropriado citar aqui o texto de uma declaração feita pelo Conselho de Fiqh islâmico sobre coisas que invalidam o jejum no campo da medicina.

A sessão do Conselho  de Fiqh islâmico realizada durante a sua décima conferência em Jeddah, no Reino da Arábia Saudita, 23-28 Safar 1418 DH (28 de junho a 3 de julho de 1997 EC) – depois de estudar a pesquisa apresentada ao Conselho sobre o tema do que invalida o jejum no campo da medicina, e os estudos, pesquisas e recomendações emitidas pela nona Conferência de Fiqh Médico realizada pela Associação Islâmica de Ciências Médicas, em cooperação com o Conselho e outros órgãos, em Casablanca, Marrocos, 9-12 Safar 1418 DH (14-17 de junho de 1997, EC), e depois de ouvir a discussão que teve lugar sobre este tópico, com a participação de fuqaha’ e médicos, levando em conta as evidências do Alcorão e da Sunnah, e as opiniões dos fuqaha ' – determinou o seguinte:

1 – As seguintes coisas não têm efeito sobre o jejum:

i. Colírios, gotas auriculares, lavagem otológica, gotas e sprays nasais – desde que se evite engolir qualquer material que possa atingir a garganta.

ii. Comprimidos ou pastilhas que são colocados sob a língua para o tratamento da angina pectoris, etc., desde que se evite engolir qualquer material que atinja a garganta.

iii. Pessários vaginais, duchas, uso de espéculo ou exame digital interno.

iv. Introdução de um escopo ou bobina (DIU), etc., no útero.

v. Introdução de um escopo ou cateter na uretra (do homem e da mulher), ou injeção de corantes para diagnóstico por imagem, ou de medicação, ou limpeza da bexiga.

vi. Perfuração de dentes (antes do preenchimento), extração ou polimento dos dentes, uso do miswak ou escova de dentes, desde que evite-se engolir qualquer material que atinja a garganta.

vii. Enxaguar, gargarejar ou aplicar tratamento tópico na boca, desde que se evite engolir qualquer material que atinja a garganta.

viii. Injeções subcutâneas, intramusculares ou intravenosas – com exceção daquelas usadas para fins de nutrição.

ix. Oxigênio.

x. Anestésicos, desde que não forneçam nutrição ao paciente.

xi. Medicamentos absorvidos pela pele, como cremes, loções e adesivos usados ​​para administrar medicamentos através da pele.

xii. Introdução de um cateter nas veias para examinar ou tratar os vasos do coração ou outros órgãos.

xiii. Laparoscopia para fins de diagnóstico ou tratamento cirúrgico dos órgãos abdominais.

xiv. Biópsias do fígado e outros órgãos, desde que isso não seja acompanhado pela administração de nutrientes.

xv. Gastroscopia, desde que não seja acompanhada pela administração de nutrientes.

xvi. Introdução de medicamentos ou instrumentos no cérebro ou na medula espinhal.

xvii. Vômito involuntário (em oposição ao vômito auto induzido).

2 – O médico muçulmano deve aconselhar seu paciente a adiar os tratamentos e procedimentos acima descritos até que o mesmo tenha quebrado seu jejum, se for seguro fazê-lo e não cause nenhum dano (mesmo que esses procedimentos não tenham nenhum efeito sobre seu jejum).

Em segundo lugar:

Trabalhadores que trabalham sob o calor e o sol e assim são adversamente afetados, como aqueles que trabalham em construções ou em fundições de ferro e aço, não têm concessão que lhes permita quebrar o jejum, a menos que cheguem a um ponto de exaustão onde temam morrer de sede ou ficar muito doentes. Tal trabalhador deve intencionar jejuar desde a noite anterior e começar o dia em jejum; então, se sofrer de exaustão e dificuldades extremas, poderá quebrar seu jejum na medida em que protegerá seu bem-estar e, então, abster-se de comer e beber durante o resto do dia, depois compensá-lo.

O que disse, que ele não terá oportunidade de fazer o jejum, não está correto. Ele pode jejuar em seus dias de folga, mesmo que tire folga para esse propósito. Se este trabalhador recorre ao uso de soluções salinas, isso não o ajudará, porque isso também invalidará o jejum, como mencionado acima, e esta ação é considerada como um truque ou brecha, e é haraam.

Por isso, diz-se em Fataawa al-Lajnah ad-Daa'imah li'l-iftaa' (10/252):

É permitido receber tratamento médico sob forma de injeção muscular ou venosa, para o jejuador durante o dia no Ramadan, mas não é permitido que ele receba injeção nutricional neste período, porque isso vem sob o mesmo parecer de comer e beber, e usar essas injeções é considerado um truque ou brecha. Se for possível administrar a injeção no músculo ou veia durante a noite, isso é preferível. Fim de citação.

Para mais informações sobre jejum para aqueles cujos empregos envolvem trabalho físico pesado, consulte as respostas às perguntas nº 43772 e 12592.

Em terceiro lugar:

A niyyah (intenção) que poderia ter um impacto a esse respeito é no caso de se usar truques para evitar o jejum. Então, se uma pessoa viaja para poder quebrar seu jejum, ambos, viajar e quebrar o jejum são haraam, o que não tem relação alguma com aquele que viaja sem tal intenção.

Com relação a viajar e quebrar o jejum, diz-se em Kashshaaf al-Qinaa’ (2/312), que é um livro Hanbali:

Se a pessoa viaja para quebrar seu jejum, ambas ações – ou seja, viajar e quebrar o jejum – tornam-se haraam, porque não há razão para viajar, exceto como uma desculpa para quebrar o jejum. Quanto à proibição de quebrar o jejum, é porque não há razão para permiti-la. Quanto à proibição sobre viajar, é porque ela está sendo usada como um meio de quebrar o jejum, o que é haraam. Fim de citação.

E Allah sabe melhor.

A Fonte

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